Victor Schmidt Comitti (UFMG)
Por muito tempo o pensamento humano foi dominado pelo que ficou conhecido como princípio autocêntrico: a crença de que o homem ocupa uma posição central no universo. Foi Copérnico, no século XVI, quem tirou os humanos dessa posição privilegiada ao postular que a Terra não ocupa uma posição espacialmente favorável no cosmo. Uma extensão mais recente do princípio de Copérnico é o princípio cosmológico perfeito que diz que o universo deve ser homogêneo e isotrópico em grandes escalas no espaço e no tempo. Uma conseqüência imediata dessa proposição é que a Terra não pode ser especial de nenhuma maneira.
O Princípio Antrópico (PA) apareceu como uma maneira de condensar essas duas posições extremas -- o princípio autocêntrico e o princípio cosmológico -- em um princípio conciliador que trata o fato da nossa existência como uma explicação válida em física.
O primeiro autor a usar um argumento baseado no PA, ainda que este ainda não houvesse sido definido como tal, foi o físico norte-americano Robert Dicke, num artigo de 1961 [1]. Dicke notou que o tempo de Hubble T -- uma estimativa da idade do universo baseada no modelo padrão da cosmologia --, não poderia assumir um valor aleatório. Um limite mínimo para o valor de T seria estabelecido pelo tempo necessário para que elementos mais pesados que o hidrogênio fossem sintetizados nas estrelas. O limite máximo seria determinado pela necessidade da existência de um ambiente hospitaleiro que reunisse as condições necessárias para que o ser humano pudesse existir. Esse limite superior é definido pela idade máxima que uma estrela capaz de gerar energia por reações nucleares pode ter.
O Princípio Antrópico só foi definido formalmente pelo astrofísico norte-americano Brandon Carter em 1974 [2]. Carter definiu o princípio em duas versões: a fraca e a forte. De acordo com a versão fraca, nas palavras dele, devemos estar preparados para levar em conta o fato de que a nossa posição no universo é necessariamente privilegiada de alguma forma, de maneira a ser compatível com nossa existência como observadores. Já a versão forte, também nas palavras de Carter, diz que O universo (e por conseqüência os parâmetros fundamentais do qual ele depende) deve ser tal que admita a criação de observadores dentro dele em algum estágio.
É importante notar que as duas versões do PA expressam idéias completamente diferentes. O princípio antrópico fraco apenas impõe restrições de lugares (no espaço e no tempo) onde observadores inteligentes podem existir. O princípio antrópico forte, por outro lado, coloca limites bem estabelecidos para todas as constantes fundamentais da física.
O PA pode parecer trivial ou até mesmo tautológico à primeira vista, porém ele já foi invocado várias vezes, sobretudo para explicar o ajuste fino de certas constantes. As constantes de acoplamento gravitacional e nuclear, por exemplo, se tivessem valores sensivelmente diferentes inviabilizariam a existência de vida inteligente na Terra. É importante notar que, em nenhum momento, o Princípio Antrópico se apresenta como uma ferramenta realmente capaz de explicar certos fenômenos. Ele é, no máximo, uma maneira interessante de se pensar sobre certas questões, enquanto ainda buscamos uma física mais fundamental da qual possamos derivar todos os fenômenos cujas causas nos são desconhecidas até o momento.
Fonte: http://www.fisica.ufmg.br/~dsoares/ensino/victor-antropico.rtf
Por muito tempo o pensamento humano foi dominado pelo que ficou conhecido como princípio autocêntrico: a crença de que o homem ocupa uma posição central no universo. Foi Copérnico, no século XVI, quem tirou os humanos dessa posição privilegiada ao postular que a Terra não ocupa uma posição espacialmente favorável no cosmo. Uma extensão mais recente do princípio de Copérnico é o princípio cosmológico perfeito que diz que o universo deve ser homogêneo e isotrópico em grandes escalas no espaço e no tempo. Uma conseqüência imediata dessa proposição é que a Terra não pode ser especial de nenhuma maneira.
O Princípio Antrópico (PA) apareceu como uma maneira de condensar essas duas posições extremas -- o princípio autocêntrico e o princípio cosmológico -- em um princípio conciliador que trata o fato da nossa existência como uma explicação válida em física.
O primeiro autor a usar um argumento baseado no PA, ainda que este ainda não houvesse sido definido como tal, foi o físico norte-americano Robert Dicke, num artigo de 1961 [1]. Dicke notou que o tempo de Hubble T -- uma estimativa da idade do universo baseada no modelo padrão da cosmologia --, não poderia assumir um valor aleatório. Um limite mínimo para o valor de T seria estabelecido pelo tempo necessário para que elementos mais pesados que o hidrogênio fossem sintetizados nas estrelas. O limite máximo seria determinado pela necessidade da existência de um ambiente hospitaleiro que reunisse as condições necessárias para que o ser humano pudesse existir. Esse limite superior é definido pela idade máxima que uma estrela capaz de gerar energia por reações nucleares pode ter.
O Princípio Antrópico só foi definido formalmente pelo astrofísico norte-americano Brandon Carter em 1974 [2]. Carter definiu o princípio em duas versões: a fraca e a forte. De acordo com a versão fraca, nas palavras dele, devemos estar preparados para levar em conta o fato de que a nossa posição no universo é necessariamente privilegiada de alguma forma, de maneira a ser compatível com nossa existência como observadores. Já a versão forte, também nas palavras de Carter, diz que O universo (e por conseqüência os parâmetros fundamentais do qual ele depende) deve ser tal que admita a criação de observadores dentro dele em algum estágio.
É importante notar que as duas versões do PA expressam idéias completamente diferentes. O princípio antrópico fraco apenas impõe restrições de lugares (no espaço e no tempo) onde observadores inteligentes podem existir. O princípio antrópico forte, por outro lado, coloca limites bem estabelecidos para todas as constantes fundamentais da física.
O PA pode parecer trivial ou até mesmo tautológico à primeira vista, porém ele já foi invocado várias vezes, sobretudo para explicar o ajuste fino de certas constantes. As constantes de acoplamento gravitacional e nuclear, por exemplo, se tivessem valores sensivelmente diferentes inviabilizariam a existência de vida inteligente na Terra. É importante notar que, em nenhum momento, o Princípio Antrópico se apresenta como uma ferramenta realmente capaz de explicar certos fenômenos. Ele é, no máximo, uma maneira interessante de se pensar sobre certas questões, enquanto ainda buscamos uma física mais fundamental da qual possamos derivar todos os fenômenos cujas causas nos são desconhecidas até o momento.
Fonte: http://www.fisica.ufmg.br/~dsoares/ensino/victor-antropico.rtf
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