UMA TEORIA DO TUDO



Neste texto esquemático apresento com brevidade a história dos “entes e suas categorias”. Tenta-se fazer uma mediação entre o idealismo e o materialismo realista, buscando ainda incorporar as dimensões racionais e caóticas da realidade. Mesclando-se conceitos filosóficos diversos, da observação do mundo real, de aspectos do conhecimento cosmológico, do paradigma evolucionista escreve-se um panorama da história do mundo e da consciência, destacando seus pontos cruciais. Na parte final abre-se o espaço para a religião e a possibilidade da existência eterna da consciência individual.
Da “lei da causalidade” (Aristóteles) deduz-se a “necessidade” do “princípio primeiro” o qual chamarei de SER FONTAL, sendo ele a fonte inefável de todo o “ser” e de todo o pensamento [“Uno” de Plotino]. Irreconhecível, neste ser estão todas as coisas e ao mesmo tempo ele é diverso de tudo. Mas é através do que dele é gerado, que ele se auto-reconhece (Hegel). As “emanações” básicas que provém do SER FONTAL são o ESPÍRITO (princípio inteligente e arquétipo da beleza, ordem e virtude) e a PHISIS (propriedades físicas do universo), natureza virtuosa que, a princípio, consiste de um “chaos primordial”, não havendo nele ordem ou racionalidade, mas sim a capacidade de ser racionalizável, ordenável. A PHISIS contém dynamos que é sua potencialidade própria, a qual é livre e não-teleológica, conferindo-lhe a condição de liberdade. É o ESPÍRITO quem lhe informa o seu objetivo. Percebe-se aqui a antítese entre as duas emanações: força racional espiritual x força irracional material.
A PHISIS é influenciada pelo ESPÍRITO (“reflexão das Mônadas”? - Leibniz), o que causa a “evolução” da PHISIS. As limitações de um dado estágio da PHISIS se constituem em um problema para a sua evolução, o que soluciona-se por meio de: a) auto-esforço cego da PHISIS através do “método da tentativa e erro” (acaso, probabilidade), ou por colaboração de influxos do ESPÍRITO, produzindo insights, descobertas improbabilísticas de modos de existência da PHISIS. Seria improvável que a PHISIS pudesse realizar certas coisas sem a colaboração do ESPÍRITO.
É o diálogo do ESPÍRITO com a PHISIS que causa a evolução do universo [de chaos para kosmos] num processo de progressiva racionalização da PHISIS.
Num dado momento da evolução da PHISIS ela atinge um novo grau de espiritualização, por individualização em corpos vivos (microcosmos comunicantes com o macrocosmo) – surgimento da vida – iniciando-se uma nova forma de consciência da PHISIS a qual consiste nas atividades básicas de crescer, espalhar-se, adaptar-se. Nesta fase se produz um novo dualismo (organismo vivo /// meio) caracterizado pela dependência e oposição – esta interação se torna um novo motor a impulsionar a evolução. (...)
Um novo marco no processo de conscientização da PHISIS ocorre quando há a personalização dos corpos vivos, tendo-se perpassando os vários graus de percepção do mundo por parte dos seres vivos, mas sobretudo pelo aparecimento da humanidade a qual caracteriza-se pela autopercepção, autoconsciência. O que irá produzir um novo dualismo (seres autoconscientes /// natureza, que são igualmente dependentes e opostos). Nem sempre o humano irá reconhecer sua relação de dependência para com a natureza. Em verdade, os humanos são a porção da PHISIS, que movida pelo ESPÍRITO atingiu a autoconsciência e por isso eles tornaram-se também espírito.
O aparecimento dos seres autoconscientes possibilitou a aceleração da racionalidade, a evolução do “nous”, da ideia retroflexa – a descoberta dos princípios racionais da realidade, o conhecimento de si e do mundo, por meio dos métodos racionais de conhecimento. Dentre as classes de conhecimento tem-se o conhecimento cosmológico (compreensão do mundo externo), conhecimento prático (a técnica), conhecimento do humano (propriedades psicológicas subjetivas e sociais), conhecimento transcendental (compreensão do mundo, por meio de si, tendendo para o SER FONTAL). O desenvolvimento congruente desses conhecimentos de forma conjugada causa a “desalienação” do indivíduo e o real progresso da humanidade.
Há dois tipos de consciência personalizada: a  c. p. egoísta que busca somente a satisfação individual, familiar, grupal, nacional e com isso intensifica as antíteses; e a c. p. aberta, que é a consciência aberta para o ESPÍRITO, que a despertou para a alteridade da natureza e dos seres humanos a descoberta de suas reais necessidades provocando a convivência pacífica.
Dentre as consciências personalizadas há os “iluminados”, uma classe especial de consciências racionais abertas ao ESPÍRITO, embora cada ser humano possa iluminar-se, pela progressão nos conhecimentos descritos acima. A iluminação consiste na descoberta profunda da verdade divina: descobre-se a unidade dos existentes; e a “moral superior”: princípio da fraternidade universal, do autroísmo, a regra de ouro do evangelho. Estas consciências iluminadas ajudam a humanidade a evoluir em seu conhecimento transcendental. Jesus de Nazaré foi particularmente o ser gerado e imbuído do ESPÍRITO.
Sendo parte da PHISIS, a consciência personalizada adquiriu a condição de espírito, de modo que a degeneração do corpo não degenera a consciência. A consciência personalizada aberta é passível de ser conjugada à vida do SER FONTAL. [Ressurreição]. A consciência personalizada egoísta perece.
O termo final da PHISIS é o equilíbrio, a beleza, a harmonia, que é assemelhação da PHISIS com as propriedades do ESPÍRITO que a move, pela superação das oposições. O humano tem um papel importante na condução da história para o seu fim por meio da superação da oposição entre povos, raças, nações e religiões, formando uma humanidade global, e pela superação da oposição entre sua existência e a existência da natureza.

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